Eternamente dois
E se a mim fiz crer
Que sendo amor
Tudo podia vencer
Depois do desterro
De viver o pesadelo
Noutra sentença vi-me desfazer
E o velho sonho
De sair do abandono
Voltou a me pertencer
Creio-me insana
Dentre a loucura desse viver
Ilusões com que me alimento
Insanidade de um sentimento
Que devaneios me faz ter
De a mim ser possível
Amar e amada ser
E sobrevivo por esse anelo
Nutro em meu abandono
Feito um cão sem dono
Com tanto ardor
Este venerado sonho
E nessa manhã
Ao deparar-me com minha vida
Vi por terra cair
A loucura que me trouxe aqui
Acariciei por tanto tempo
Meu delírio ardente
Que cri veementemente
Não ser apenas sonho
E foram dias e noites
Vivendo nesse devaneio
Onde a ausência
Era tão somente
Um tempo de encontro
De dois seres livres do abandono
Eram doces noites de desvelo!
E aos céus, todos os dias, enviava meu apelo:
Ser amada por ti,
Ter de ti teu alento
Ter teu hálito no meu rosto
Teus olhos a mirar-me
Ter o teu olhar
Podendo meus sentimentos enxergar
Sentir o teu calor abrasador
Meu corpo queimar
Ouvir teu coração
Ter vida nessa vida
Sentir em mim tu’alma
Viver tão puro e celeste sentimento
Sermos como dois mansos rios
Que por leitos diferentes
Seguiram seus caminhos
Até que juntos perderem-se no oceano
Ter meus lábios em teus lábios
E em insano delírio
Deixar de ser um cão sem dono
Nesse infindo oceano
Unidos com um
Termos nossas almas
E ser esse nosso alento
E à mim você seria
Um anjo de felicidade
Haveria tão somente
Uma única verdade
Seríamos para o amor amantes, amados!
Mas foi apenas um sonho
Terminou ao Sol nascer
Restaram as lágrimas
E a cruel realidade
Não existe amor
Cuja força tudo rompa
Foi apenas minha loucura
A insanidade de quem vive à procura