SORVETE E PALÁCIO

SORVETE E PALÁCIO

 

Aquele menino não viu o vigário,

Mas estudou no ginásio do padre,

E foi ao cinema em outro horário,

Para conhecer seu dente de sabre.

 

Assistindo filmes também aprendia,

Mas nos intervalos tomava sorvete,

Com os picolés que o Ailton fazia,

E de tão gostosos, pedia foguetes.

 

O cine de Zito era na avenida,

Mas se aproveitava da sorveteria,

E aqueles sabores eram na medida,

Com as frutas da safra ou do dia.

 

Eram encontros de jovem e adulto,

Que traziam alegria às famílias,

Seja após as missas e os cultos,

Ou naquelas reprises tardias.

 

Não se tinha a mídia de agora,

Pois os telefones eram orelhões,

E os demônios vindos de Pandora,

Só chegaram com as televisões.

 

Tudo se saboreava "in natura",

Pois a cultura era do agricultor,

Porque hoje não há aventuras,

Mas se planta o que causa a dor.

 

Vejo os alimentos tão artificiais,

E ainda me lembro do galo caipira,

Mas no Auditorium há algo a mais,

Pois o sorvete tem toques de lira.

 

E os picolés, que são como pipoca,

Nos contagiam e ficamos de bobo,

E teremos palácio de artes na toca,

Porque há saber e sabor, seu lobo!