Súplica
Entre suspiros e lágrimas sentidas
Rogo-te em sutil ladainha:
Colhei, senhor meu, o doce fruto,
Tomai logo o que é teu
Antes que passe e escorra o tempo
Não te sobre nenhum abraço
Tome antes que ferozmente
O tempo cubra a tudo
De aborrecido frio todo cume
Ah! Não tardeis: olhai que corre muito,
Olhai que tudo leva,
Olhai como escorre
Cada segundo úmido
Olhai que em claro
Tudo nos arrebata e nos consome
Entre tudo e nada
Nem mais fica o meu nome
E em águas que ferozes arrastam
Sem serem delicadas
Rio de grandes águas
Águas misturadas
Doce e sal na água
É este o rio, doce amor
Que com as minhas lágrimas cresciam
E por isso o sabor
Ao redor dessas águas
Entre flores delicadas
Nos vales sem essas águas
De amor suspirei apenas comigo
Contei meu triste segredo
E pelo mar procurei
Enquanto as águas escorriam
Lavando o segredo e tudo que eu sentia
Para ter meu corpo em repouso
Sob imensas árvores que de mim ouviam
Meus queixumes, minhas dores
Tudo que ninguém via
E todas as promessas
No badalar do sino
O silêncio me enterra
Enfim parto de ti, pois o meu destino,
Atormentado de perpétua guerra,
Me leva por mil mares peregrina
Náufraga mesmo em terra
Minhas doces esperanças
Minha pretensão perdida
Cego desejo, errado pensamento
Nego veemente minha sina
E meus suspiros que continuo
São levados com o vento
Súplicas de um coração
Que entre pedidos de perdão
Ergue aos céus uma oração:
Dai-me já paz na minha triste vida
Tira-me essa dor que já me é contínua
E se não podes, nem por pena,
Dar-me o bálsamo que alivia
Dá-me outro socorro
Tira-me da mente
Dá-me o esquecimento
Tome de mim, correndo
Esse meu tormento
Tome como se toma os despojos
Liberta essa alma entristecida
Deixe que de mim se aproxime
Essa tenebrosa sorte
Assim fazendo com mesmo estranha
Até a dor me será leve
Comparado ao que hoje sinto
Lágrimas, confusão, estrago ou morte,
Entre tudo se me figura
Já nem mais minto
Apenas peço
Que passe como desgosto breve
Ou que para sempre
O amor congregue