ÉBANO
Eras tu
de pele envolvente,
solvente
dos olhos cansados
da monotonia das cores.
Como desejo tê-la
em minha aquarela,
capturar teus olhos
na tela que me devora
com a pintura
da tua epiderme.
Teu sorriso
é tua vez,
tece
a voz
na liturgia
do terço,
do traço,
que destroça
a letargia
da palidez.
Quero naufragar
nesse teu corpo,
no redemoinho
com que rodopias
tuas seduções,
e, exausto,
desfalecer-me no colo,
para acordar no útero
das fecundações.
Quem és tu,
que do ébano vem
furtar o meu sono
e povoar os sonhos
nem sei como,
talvez no cromo
de tua encantadora tez ?
Hei de banhar-me
em todas as águas,
de tanta liquefação
uma delas
levará ao teu sumo,
no qual me consumo
quando se consuma
a minha perdição.