ANTES DO ECLIPSE
ANTES DO ECLIPSE
O que será do nosso jardim,
Se não mais tivermos pássaros?
Como serão meus frutos, enfim,
Se minh'alma se vê em espasmos?
Eu sei que forjamos desastres,
Pelas gerações vindas do caos,
Pois não lemos Freire e Sartre,
Mas toleramos o naipe de paus.
Fizemos das relações um negócio,
Enquanto pilhamos nos escombros,
Pois, se não há guerra, vida é ócio,
E, à cada demanda, dou de ombros.
Será que um dia vamos entender,
De como se vive, morre e age?
Pois tudo que penso é vencer,
Mas só vou findar como pajem.
As vagas de rei são tão poucas,
Como as fortunas e a sublimação,
Mas assisti a gaiola das loucas,
E velhos filmes de heróis e ação.
Mas hoje eu penso no que advogam,
Os donos de tudo que morrem também,
E penso: - Será eles que suportam,
Ou até na morte ninguém quer o bem?
Mas restam os dias antes do eclipse,
Que vai nos dizer se revolta o Sol,
Ou ele se vai, entre Buda e inkices,
Dizendo em murmúrios, que tudo é sal.
E eu, que mergulho no sal e no rio,
E voo além das martírios do tempo,
Suspiro nas vidas de calor ou frio,
Mas sinto arrepios na voz do vento.