Entre silêncio e cantos

Ouço pássaros que soltam teus primeiros cantos

Enquanto a noite encerra seu ciclo

O breu vai retirando o seu manto

E um novo dia chega trazendo a luz que irradia

Os pássaros cantam, parece que conversam

Enquanto a luz vem tomando cada canto

Mais os pássaros soltam seus cantos

De um jeito meio sem pressa

De repente mudam os cantos

Outra coisa lhes interessa

O bater de asas anuncia:

Partem eles para esse novo dia

Tudo silencia

Em meio a essa festa matinal

Meus pensamentos se misturam

Entre o real e o que imagino

Por momentos te realizo em lembranças do passado

E mesmo sem estar ao teu lado

Crio a imagem do que teu dia possa ser

Recriando passo a passo o que poderia viver

E nessa insensatez te imagino em teu quarto escuro

Dormindo, enquanto também fazem festa

Os pássaros que nas árvores de onde mora

Vivem bem nessa hora

Tudo que no meu mundo acontece nesse segundo

E assim imagino, enquanto o um sútil sorriso

Se contenta pensando nisso

Elaboro na mente a cena

Que cada pássaro encena:

Acordam nesse dia úmido

Esticam suas perninhas

Junto as asinhas

Espreguiçam

Ajeitam as penas

E depois disso cantam

Pulam nos galhos

Esperam o dia claro

Voam

E enquanto nisso penso

Dentro de mim um sentimento

Umedece tudo que vejo

E passo a sentir não a alegria que lá fora se canta

Mas a tristeza que a alma devora

Por sentir agora

Um frio insuportável que toma meu corpo

E no silêncio que agora ouço

Me dou conta do abandono

E tudo que me deixou

As memórias se avivam

Fazem deboche comigo

Desfila o desamor

A dor reanuncia: tudo acabou

Quisera encontrar o fio

Onde tudo iniciou

Puxá-lo sem receio

Desfazer cada ponto

Que essa história entrelaçou

Mas se o coração deseja

Fazer com que tudo desapareça

A vida tudo arrematou

Fez as amarras indissolúveis

E o que foi feito

Está feito

Nada fará desaparecer

Desaparecer só eu dentro de você

E assim perdida

Ergo o corpo quase sem forças

Tomado por descrença e abandono

Forma muito antiga

Muito viva

Se eterniza em minha vida

Sigo até a janela

Olho através dela

Fecho os olhos

Respiro

Meu imaginário cria

Uma outra vida

Respiro

Abro os olhos

Para onde olho

Com pouco me consolo

O olhar se perde

Nada mais eu vejo

Só o infinito tempo vazio

Que ao corpo traz arrepio

Respiro fundo

Volto ao mundo

E nesse momento me vejo onde estou

Arrumo forças e deixo a janela

A alma sangra

Sigo ignorando ela

Abro um sorriso

Outro dia sigo

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 24/03/2024
Código do texto: T8026472
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