Despedida

Já é hora!

Manter mumificada a imagem imaculada

Só serviu de alimento ao verme que por dentro

Corroeu as entranhas derramando ácidas lágrimas

Que a carne desfez sem qualquer sensatez

Os ossos fragilizados expostos a face extenuada

Foram os resultados obtidos

Longas madrugadas a esperar pelo nada

Que nem mesmo foi prometido

Ilusão criada por uma alma apaixonada

Visões reproduzidas na tela da vida

Que expurgou a alegria e foi deixando a vida fria

Janela sempre aberta, sempre a tua espera

Fecho agora e me digo: não faça isso consigo!

Deixar presa na garrafa a esperança despedaçada

Não traz alegria nem melhora no novo dia

A dor que ontem me acometia

Junto com o sol que no horizonte desponta

Minha dor se levanta ébria por sugar minha vida

A lucidez se alterna entre o real e o que se deseja

A boca implora para que os olhos te vejam

Insanidade que me leva para fuga da realidade

Criando mundos onde o que sinto é seguro

Não há tempo escuro, nem entre nós muro

Sorrisos e mais sorrisos

Sonhos reais vividos

Coração inteiro

Sangrar nem em pesadelo

Mas em um piscar a luz se apaga

Pesadelos assombram, corroem a carne como brasas

Na escuridão quase pára o coração

A respiração descompassa, a dor não passa

Agonia que mata e eterniza a tristeza de outro dia

No tempo que passa ninguém me acha

Escondi-me nos escombros

Por medo do ser medonho o que no espelho vi

Escondi-me junto aos destroços

Misturando-me a poeira por assim compreendê-la

Parte de mim ser

Esperei-te noite e dia, repetindo essa agonia

Não vieste, e eu sabia

Nessa teima só eu perdia

Por isso, já é hora!

Já não tenho mais tempo

Esse é meu último tempo

Preciso livrar-me dessa agonia

Antes que me chegue meu último dia

Pois quero recebê-lo com alegria

Sem lágrimas nem ossos exposto

Apenas um sorriso aberto para o momento

Agradecida por esse dia

Quero deixar eternizado

Pelas palavras registrado

Tudo que no meu peito ficou guardado

Quero deitar sobre o papel

As palavras que revelarão

Que em cada batida do meu coração

Nesse infinito tempo de solidão

Mesmo em meio a total escuridão

Na insanidade, fui feliz

E essa foi a felicidade que conheci

No que guardei em mim do dito por ti

E no que tudo diz

Já não importa se foi-me breve

Se foi-me apenas sonho

Foi tudo que tive

Foi minha parcela de ser feliz

Já é tempo de dizer-lhe que esperei você

E nesse tempo te trouxe pra mim

Minha solidão tinha você

Nessas palavras há você

No adeus, em minha despedida

Vens comigo

És meu amor antigo

Só não se importe

Nada muda na tua vida

Essa é minha despedida

És minha felicidade

Consciente de nada te ser

Tudo em mim está em conformidade

Não importa o quanto eu grite

Por isso no silêncio me deixo

Esse é o meu grito

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 22/03/2024
Reeditado em 22/03/2024
Código do texto: T8025694
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