SIMPLES E BELO É O POEMA QUE QUERO

Crítica Literária em Versos

(Sobre certa poesia Angolana)

- - -

Simples e belo é o poema que quero —

Poema que se diz 'difícil' nestas latitudes

Não passa duma farsa

Disfarçando a falta de talento

Sob pretexto de 'refinado'

Simples e profundo é o poema que desejo

Sem se afogar no abstrato balbucio

Nem no elitismo absurdo

Da vossa insana ilusão

Grafam versos tão incoerentes quanto feios

Forçados em sua insuperável pobreza

(Aos surrealismos de fabrico tropical)

E perguntam-se por que ninguém os lê —

Mas quem, no pleno uso da razão

Se encantaria com tal entulho?

Valha-me, céus! sejamos realistas —

Simples e jeitoso é o poema que anseio

Uma dádiva original isenta de imitações

Plágios, gabarrices e exibicionismos —

Em nossas línguas nativas à boa tradução

Para toda a gente de todas as gerações

Poema Africano vestido de verde, de amor

Liberdade e demais afazeres da vida comum

Que fazem sentir, reflectir e sonhar

Sem artifícios nem empecilhos

Muito menos padrões trazidos do além-mar

Simples e rico é o poema que almejo —

Poema rotulado como 'difícil' nestas geografias

É pretensiosa bagatela, tão-só

Encobrindo vossa incompetência

Sob o manto de 'sofisticado'

(Basta! estou farto de palhaçadas)

É simples e belo o poema que quero

Aqueloutros de metáforas mal concebidas

Em estrofes atrofiadas

Fingindo possuir a chama do 'intelecto'

Dedicai aos tolos, que cegos e sem freios

CONSAGRAM SUCATAS E SUCATEIROS.

(Poema realista)

Redigido em Kimbundu.

Tradução portuguesa do autor.