PERGUNTA
Entre a ausência
e o regresso
havia um desconforto.
Em nome deste,
bebia o sal das marés.
Eram tantas,
benditas,
inauguravam
ciclos de esperança
malditas,
regurgitavam
frustrações.
Seja como for
estavam lá
com seus sais.
Eram de uma buliçosa
terapia,
bem à vista dos olhos perdidos,
da alma cansada
alquebrada de esperas.
No início o tempo me deu um questionário,
depois bastou apenas uma pergunta,
o destino a repetia em inquietante liturgia.
Um dia,
prá lá dos idos de uma angústia qualquer,
fui tomado de
desenfreada busca
recolhi os sais,
esquivei-me dos sóis,
pus-me
a andar desvairado
pela antropófaga praia.
Andei,
andei...
não conjuguei cansaços,
tampouco desistências.
A areia ia me ofertando
múltiplas ausências,
até que,
na curva
de um novo olhar,
avistei um homem.
Aproximei-me,
trôpego,
era um velho pescador
cercado de viuvezes,
seu rosto esculpia toda a dor do mundo.
Peguei em suas
calejadas mãos,
ele apenas permitiu
com a compaixão dos sábios.
As beijei com devoção
abracei seu corpo,
toquei nos cabelos desgrenhados de brancos e vazios.
Chorei o sal
das últimas lágrimas,
quando pensei em fazer
aquela pergunta,
ele comungou do mesmo olhar que eu
e disse:
"Você também tem medo da solidão?"