Pela janela
Fez-se outro dia
Outra noite terminou
Repouso o olhar na luz que erradia
Secando a lágrima que rolou
Janela ainda fechada
Respiração ofegante
Outro dia, outra jornada
Sem a espera do amor de antes
Luz que pela fresta
Traz esse novo dia
Mas não faz festa
Por não crer que o amor irradia
Quisera dizer-lhe que hoje é diferente
Que essa luz anuncia
Que os problemas de antes
Morreram no raiar desse dia
Mas bem sei ser apenas uma fantasia
Morrem as noites
Nascem outros dias
E a dor é meu açoite
Ouça, sem titubear
As palavras que irei falar
Guarde-as sem pensar
Pois tudo quero mostrar
Abra a janela
Deixe as antigas memórias
Pois são através delas
Que estão toda história
Escancara a porta
Adentre através dela
Antes que se faça morta
A esperança presente nelas
Permita-se sentir
A saudade do meu existir
Não digas palavras
Que não posso mais ouvir
Não me negue as promessas
Outrora afirmadas
Retome-as bem depressa
Pois não farei-me de rogada
Mas de novo me encerras
E antes que o dia se encerre
Volto a deitar-me como sob a terra
Com o corpo queimando em febre
Volto a ser rio
Em revoltas águas
Águas desse tempo frio
Coração cheio de mágoas
No fim
E por fim
Quando o dia chega ao fim
Só saudade há em mim
Fecho outra vez a janela
O breu meu corpo vela
A lágrima tudo sela
O coração no peito se quebra