Canto triste
Há uma névoa pesada pairando
Encobre na madrugada toda passarada
Que nos galhos pousados aguardam o sol
Há dentro de mim tanto que observando
Assim como essa névoa me mantém parada
Em um tempo em que o antigo farol
Quebrou-se por inteiro
Deixando-me sem paradeiro
Os pássaros pousados apenas aguardam
O momento derradeiro
Para baterem suas asas e voarem pelos terreiros
Enquanto alegres nesse vôo enfeitam e entoam
Cantos melodiosos que não apenas ecoam
Mas enchem as almas com esse cantar faceiro
Dentro de mim, totalmente diferente
O silêncio não se faz ausente
E nutre lá na alma essa dor enormemente
Enquanto no exterior tudo se mostra indiferente
Olhando pelo lado de fora
Não se vê dor no sorriso que falso se aflora
Enquanto os pássaros entoam seus cantos
Eu em silêncio fico no meu canto
E se um pássaro na tua janela canta
É por tentar ele te contar da minha desesperança
São esses pássaros que pousados na árvore de sua janela
Em seus bicos levam, quase que em prece
Todas as palavras que no meu peito se guardaram
Tentando pelo canto iluminar tal qual uma vela
Teu quarto que enegrece
E poderem cantar que os dias frios findaram
Mas pousados nos galhos frios
Esses pobres pássaros
Assim como meu coração
Não encontram o que finda com esse sombrio
E ardil perpetuo viver que já me é um desamparo
E nesse peito repleto de sofrer sonhar é em vão
Deixa-me dizer-lhes, pobres passarinhos
Voltem para seus ninhos
Não há palavras ou cantos
Que impeçam que o manto
Da solidão e do sofrer
Cubram esse corpo que de frio irá morrer
Cantem e voem
À todo mundo entoem
O canto mais lindo de amor
Porque a verdade é que há amor na dor
E me desmintam os poetas, se assim não for
Digam que amor é só flor
E eu em silêncio digo
Para todos que tem ouvido
Amor verdadeiro tem dor
Quando é inteiro em um coração
E no outro não possui calor
Assim fica tudo dito através da pulsação
E que bata até o fim esse meu coração
Que carrego em minhas mãos