Mar de saudade
Há uma saudade entrincheirada em meu peito
Uma saudade de tantas coisas e de tantos nadas
Que chega a cortar a alma tornando-a cheia
Não de novos sonhos ou da velha esperança
Mas de uma dor que vem desde os tempos de criança
Essa saudade que há tempos me consome
Não me dá trégua, sabe meu nome e sobrenome
Com desdém os toma, faz minha vida enfadonha
É uma saudade indescritível, não aceita metade
Toma-me inteira, age com falsidade
Faz com que eu sinta falta daquilo que não tive
Por velhas promessas que a meu coração atinge
Mantém vivas na memória o que antes foi prometido
Não deixando-me crer que nunca será cumprido
Saudade que fere, arranca a sanidade
E no tempo que passa mais dor confere
Se agarra na carne com suas afiadas garras
Rasga sem piedade a pele e a carne
E quando o que não tive vai se esvaziando de poder
As velhas lembranças arrumam suas velas
Lançam-se no mar das águas passadas
Deixam-me a deriva sem absolutamente nada
Enquanto ao meu redor emergem sem dó
As memórias do ontem que o amor nutria
Voltam todas em total covardia
Reabrindo as feridas mal cicatrizadas
Sangrando a velha alma
E em um repente a traiçoeira lembrança
Como mágica bem realizada
Transfigura formas inadequadas na aparência exata
Daquele que no peito se guarda
E sem razão lógica de ser a voz toma meu ser
Arrepiando a pele enquanto uma arritmia torna muda
Minha voz que um dia dizia e repetia
De todo amor que sentia
Era pura sinfonia ouvir-te dia após dia
Hoje a lembrança traz dor e anuncia a morte da alegria
Náufraga, agarrada em restos que por certo
Se desfarão em um tempo certo
Fazendo assim meu corpo submergir
E talvez, somente assim a saudade terá fim