Mar de saudade

Há uma saudade entrincheirada em meu peito

Uma saudade de tantas coisas e de tantos nadas

Que chega a cortar a alma tornando-a cheia

Não de novos sonhos ou da velha esperança

Mas de uma dor que vem desde os tempos de criança

Essa saudade que há tempos me consome

Não me dá trégua, sabe meu nome e sobrenome

Com desdém os toma, faz minha vida enfadonha

É uma saudade indescritível, não aceita metade

Toma-me inteira, age com falsidade

Faz com que eu sinta falta daquilo que não tive

Por velhas promessas que a meu coração atinge

Mantém vivas na memória o que antes foi prometido

Não deixando-me crer que nunca será cumprido

Saudade que fere, arranca a sanidade

E no tempo que passa mais dor confere

Se agarra na carne com suas afiadas garras

Rasga sem piedade a pele e a carne

E quando o que não tive vai se esvaziando de poder

As velhas lembranças arrumam suas velas

Lançam-se no mar das águas passadas

Deixam-me a deriva sem absolutamente nada

Enquanto ao meu redor emergem sem dó

As memórias do ontem que o amor nutria

Voltam todas em total covardia

Reabrindo as feridas mal cicatrizadas

Sangrando a velha alma

E em um repente a traiçoeira lembrança

Como mágica bem realizada

Transfigura formas inadequadas na aparência exata

Daquele que no peito se guarda

E sem razão lógica de ser a voz toma meu ser

Arrepiando a pele enquanto uma arritmia torna muda

Minha voz que um dia dizia e repetia

De todo amor que sentia

Era pura sinfonia ouvir-te dia após dia

Hoje a lembrança traz dor e anuncia a morte da alegria

Náufraga, agarrada em restos que por certo

Se desfarão em um tempo certo

Fazendo assim meu corpo submergir

E talvez, somente assim a saudade terá fim

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 29/02/2024
Código do texto: T8010032
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