EXPECTATIVA
Era um dia tão comum!
Inexplicavelmente
veio me ter
de promessas.
Daquele enfado,
costurou-se a fadiga
no útero
do próximo amanhecer.
Não haveria
de tecer certezas,
um indelével
desejo de dúvida
já bastaria.
Não olharia
o porvir
com olhos de resignação.
Espalharia futuros acontecimentos
como pólvora imberbe
à espera da faísca.
Era só acender,
ascender — dissera eu
ao destino...
Da chama encurralada,
a explosão
seria implosão,
impulsão para
uma nova luz.
A noite arfava
na penumbra da madrugada,
o sol aquecia
as cordas vocais,
eu ouvia
no ensurdecedor silêncio
a mudez de suas profecias.
Nas cordas do cais,
aguardava
um qualquer regresso,
não importava a seca,
as invisiveis águas
seriam apenas
invasivo detalhe
na liquidez refratária
do desembarque.
A espera
se traduzia na lágrima
ainda não ressecada,
pronta para jorrar
quando outros olhos
pousassem em outras almas.
Enfim,
o sol desembrulhou-se
na tênue superfície
do firmamento.
Era apenas ilusão
ou
um presságio do momento ?
Que diferença fazia?
Sonhar era a única coisa
a me valer
naquele outro dia,
tão intrinsecamente comum.