EXPECTATIVA

Era um dia tão comum!

Inexplicavelmente

veio me ter

de promessas.

Daquele enfado,

costurou-se a fadiga

no útero

do próximo amanhecer.

Não haveria

de tecer certezas,

um indelével

desejo de dúvida

já bastaria.

Não olharia

o porvir

com olhos de resignação.

Espalharia futuros acontecimentos

como pólvora imberbe

à espera da faísca.

Era só acender,

ascender — dissera eu

ao destino...

Da chama encurralada,

a explosão

seria implosão,

impulsão para

uma nova luz.

A noite arfava

na penumbra da madrugada,

o sol aquecia

as cordas vocais,

eu ouvia

no ensurdecedor silêncio

a mudez de suas profecias.

Nas cordas do cais,

aguardava

um qualquer regresso,

não importava a seca,

as invisiveis águas

seriam apenas

invasivo detalhe

na liquidez refratária

do desembarque.

A espera

se traduzia na lágrima

ainda não ressecada,

pronta para jorrar

quando outros olhos

pousassem em outras almas.

Enfim,

o sol desembrulhou-se

na tênue superfície

do firmamento.

Era apenas ilusão

ou

um presságio do momento ?

Que diferença fazia?

Sonhar era a única coisa

a me valer

naquele outro dia,

tão intrinsecamente comum.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 26/02/2024
Reeditado em 12/03/2024
Código do texto: T8007948
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