Partida

Não sou o que eu era

Não sou nem o que agora sou

Meu corpo quase não faz sombra

Meus pensamentos me assombram

A figura refletida no espelho

Tem aspecto pavoroso

Um ar de morto

Ossos rompem a pele

A um esqueleto me assemelho

A carne fôra descarnada

Secou deixando quase nada

Um sussurro sopra em meus ouvidos

Se mistura aos gemidos

A morte já me ronda

Impiedosa em seu chamado doloroso

Com seu grito assombroso

Olhando minhas mãos

Meu corpo

Meus pés

Estremeço, sinto medo

Gela meu rosto

As lágrimas inundam

Formando pequenas poços

Entre a pele e o osso

E lanço meu olhar

Ao espaço infinito

Em silêncio solto um grito

Não há cura

Só tortura

Nesse vale imaculado

Por prece inalcançável

Minha vida foi burlada

A pele manchada

Por dor tomada

Enquanto esse olhar meu

Turva diante ao que sonhou

Diante ao que de mim se afastou

Mais distante de mim fico eu

E a incontestável verdade

É que meu corpo já sucumbiu

Meu espírito permanece

Negando o que acontece

E se cogitasse me encontrar

Dessa forma já acabada

Não levaria consigo nem meu olhar

Pois não se poria a fitá-los

Sabendo serem molhados

Talvez, e só talvez

Por saber eu bem

Ser um sonho e nada além

Se até mim viesses

Minha face talvez tocasse

Com teus quentes lábios

E enxugasse com teus dedos

As lágrimas do meu olhar

E assim eu poderia

Deixar-me ser levada

E adormecesse em eterno sono

Despedindo-me em igual silêncio

Do tempo que nesse mundo fiquei

E nada mais me importaria

Se não vivi alegrias

Se o amor não encontrei

Se minhas mãos foram vazias

Se um abraço não ganhei

Ao respirar

Pela última vez

Agradeceria

Por todo amor que esperei

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 26/02/2024
Reeditado em 26/02/2024
Código do texto: T8007846
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