Partida
Não sou o que eu era
Não sou nem o que agora sou
Meu corpo quase não faz sombra
Meus pensamentos me assombram
A figura refletida no espelho
Tem aspecto pavoroso
Um ar de morto
Ossos rompem a pele
A um esqueleto me assemelho
A carne fôra descarnada
Secou deixando quase nada
Um sussurro sopra em meus ouvidos
Se mistura aos gemidos
A morte já me ronda
Impiedosa em seu chamado doloroso
Com seu grito assombroso
Olhando minhas mãos
Meu corpo
Meus pés
Estremeço, sinto medo
Gela meu rosto
As lágrimas inundam
Formando pequenas poços
Entre a pele e o osso
E lanço meu olhar
Ao espaço infinito
Em silêncio solto um grito
Não há cura
Só tortura
Nesse vale imaculado
Por prece inalcançável
Minha vida foi burlada
A pele manchada
Por dor tomada
Enquanto esse olhar meu
Turva diante ao que sonhou
Diante ao que de mim se afastou
Mais distante de mim fico eu
E a incontestável verdade
É que meu corpo já sucumbiu
Meu espírito permanece
Negando o que acontece
E se cogitasse me encontrar
Dessa forma já acabada
Não levaria consigo nem meu olhar
Pois não se poria a fitá-los
Sabendo serem molhados
Talvez, e só talvez
Por saber eu bem
Ser um sonho e nada além
Se até mim viesses
Minha face talvez tocasse
Com teus quentes lábios
E enxugasse com teus dedos
As lágrimas do meu olhar
E assim eu poderia
Deixar-me ser levada
E adormecesse em eterno sono
Despedindo-me em igual silêncio
Do tempo que nesse mundo fiquei
E nada mais me importaria
Se não vivi alegrias
Se o amor não encontrei
Se minhas mãos foram vazias
Se um abraço não ganhei
Ao respirar
Pela última vez
Agradeceria
Por todo amor que esperei