NÃO SEI SE HAVERÁ OUTRA VIDA

NÃO SEI SE HAVERÁ OUTRA VIDA

 

Não sabemos dos atos futuros,

Se é que teremos dias depois,

E não saberemos o dia do luto,

Daquele acidente no dia dois.

 

Não sabemos se o final é escuro,

Se já estaremos cegos e mortos,

E não saberemos se o ar é puro,

Ou a espúria fuligem dos corpos.

 

Não sabemos o que fala o vácuo,

Se o som não alcança os surdos,

E não saberemos a força do palco,

Se os teatros forem de absurdos.

 

E é assim que o caos nos ensina,

De que o todo não aprenderemos,

Ou é quando não há mais piscina,

Porque na praia nos afogaremos.

 

Nós nascemos sem as cognições,

Mas os dias vão nos ofertando,

E se trabalharmos as emoções,

Viveremos bem mais que um ano.

 

É preciso ter mais pretenções,

E olhar cada pluma ao vento,

Se guiar pelo sol e estações,

Mas andar sem contar o tempo.

 

Se no meio do caminho há luar,

É porque tudo clama por sonhos,

Que inspiram desertos e o mar,

Mas também aquecem os anos.

 

E, assim, não sei se haverá,

Outra vida depois dessa etapa,

Nem sabemos o que a lua dirá,

Se eu e ela levarmos um tapa.

 

Só, então, depois do meteoro,

Sob crateras e as cicatrizes,

Nós sejamos a água sem cloro,

E busquemos ser mais felizes.