Escuridão
Entre as vielas
Cheias de pedras
Frias e úmidas
Perdi o que era
Incalculável à minha alma
Em descoloridos andrajos
A pele coberta
Enquanto na derme
Expostas as intempéries
A alma encontra-se despida
Louca e perdida
Pés em sangue
A dor mais sentida
Escorre pela garganta
Em viceral sentir
O corpo mal se levanta
Não tem direção para seguir
É tudo escuro
De um breu profundo
A luz se perdeu ali
Tudo converge
Em desprovimento de sutileza
Há somente o que dilacera
Rasga corpo e alma
Lançando ambos à escuridão
Onde as batidas do coração
Marcam o compasso
De insano combate
Entre as emoções
E o congelante frio
Que toma a tudo
E a tudo silencia
Em um mundo cinza
Vazio de companhia
Cheio de sombras
Que passam e anunciam
A morte de qualquer sonho
De qualquer outra paleta
Não permite ela
Que outra cor se perceba
Ilusões perdidas
Tudo que nessa vida
A faria florida
Entre as sombras
Morre também o sorriso
E tudo vai perdendo o sentido
Quisá houvesse um vento
Do Sul viesse ele
Soprando com feroz força
Entre as vielas
E sobre tudo que está nelas
E as sombras tirasse delas
Empurrando as para longe
Trazendo a luz brilhante
E todo amor de antes
Mas nenhuma suave brisa
Vem de qualquer ponto
Entre a escuridão
Vai parando o coração
Derramam-se lágrimas
Enquanto o corpo se esvai pelo chão