60 ANOS
Já se passaram 60 anos,
ou o tempo
me ocultou seus ponteiros.
Ainda a vejo
em alguma bruma
tentando, sôfrega,
dissipar-se
na fresta da memória esgarçada.
Os olhos
a alcançam
nos longínquos horizontes,
a alma
desidratou os cristalinos
a visão é turva,
como a curva
que tangencia
o necessário esquecimento
que nunca vem.
Me vejo ali,
no abismo
que engolfa a espera,
no vítreo calabouço
de areia
que tenta soterrar o eterno
resíduo de esperança.
Na areia movediça
da inquietante ampulheta
estático são os grãos do seu regresso.
Não me importo !
Apenas deixo-me ser
meu próprio prisioneiro,
dono de invisíveis 60 chaves.
O que são 60 anos,
se tenho toda a eternidade
para me libertar ?