MIRAGENS
À distância, vinham-me silhuetas soltas e vagas
Revirando em altas revoadas pelo ar frio
Como se movessem comigo em lágrimas de dor
Ao lamento dos caídos pinheirais —
Eram passaradas de passagem rumo ao rio
Havia silêncio na estrada deserta e pedregosa
Apenas miríades de estrelas sem lustro
Apareciam-me àquela hora tardia, inconsolada
Aos poucos e sempre mais
Dando semelhança a pétalas desgrenhadas
Pela névoa no bafejo
Caminhava, acometido por mais sobressaltos
Quando ao romper da alvorada
O sol emergia e tornava-se cálido a cada vez —
Algo sanguíneo, quase espantoso entrementes
Parecia um braseiro de lenhas na lonjura
Eram tantas mulheres no solo áspero e desigual
Que nas buscas de si próprias, convergiam-se
E surgiram ali em jeito dum louco remoinho
Invadindo o ar que já cheirava a tormentos e azar
Com enxadas em mãos para matar a fome
E a dor que violentava-lhes o cerne.
Escrito em Kimbundu.
Tradução portuguesa do autor.