Vestígios
A solidão dá a quem a tem
Alguma satisfação
As lágrimas que do coração vem
Não pedem explicação
Não há porque esconder
Aquilo que ninguém vê
Por isso o solitário
Pode libertar do imaginário
Tudo que sente
Pois ninguém vê
Na solidão de cada dia
A pele arrepia
Por tantas emoções
E na taça de vinho
Entre o tanino
O perfume amadeirado
Entre o gole que encobre a dor
Vai se camuflando entre cada nota do sabor
Que mesmo delicado
A solidão pega emprestado
Para dar-lhe vida e cor
E depois que os lábios
Se separam do cristal delicado
A taça vê-se escorrida
Pelo rubro que a boca bebia
Sutil escorre o vinho
Voltando pelo caminho
Que fizera pouco antes
E nesse instante
Todo sabor explode
E a lágrima escorre
Salgando o paladar
Em desespero por amar
Aquele que não pode encontrar
Paredes pela luz amarelecidas
Guardam o amor de uma vida
Enquanto a boca silencia
Sugando da delicada taça
O veneno que aos poucos a mata
Enquanto dentro da taça
Sangue e vinho misturam-se
Em um grande redemoinho
E na loucura que tudo confunde
Quase se faz a coragem
Mas a realidade
Não se nega através dela
Loucura e solidão
Unem as mãos
Nem o vinho vence elas
E se as paredes tivessem braços
Certamente me tomariam
Por saberem da dor sentida
Por verem cada lágrima escorrida
Toda luta de minha vida
Na taça vazia
Cristal frio
As marcas do momento
Que fôra entre as paredes vividos
São apenas esse os vestígios
E no amanhecer
Nada ninguém irá saber