Vestígios

A solidão dá a quem a tem

Alguma satisfação

As lágrimas que do coração vem

Não pedem explicação

Não há porque esconder

Aquilo que ninguém vê

Por isso o solitário

Pode libertar do imaginário

Tudo que sente

Pois ninguém vê

Na solidão de cada dia

A pele arrepia

Por tantas emoções

E na taça de vinho

Entre o tanino

O perfume amadeirado

Entre o gole que encobre a dor

Vai se camuflando entre cada nota do sabor

Que mesmo delicado

A solidão pega emprestado

Para dar-lhe vida e cor

E depois que os lábios

Se separam do cristal delicado

A taça vê-se escorrida

Pelo rubro que a boca bebia

Sutil escorre o vinho

Voltando pelo caminho

Que fizera pouco antes

E nesse instante

Todo sabor explode

E a lágrima escorre

Salgando o paladar

Em desespero por amar

Aquele que não pode encontrar

Paredes pela luz amarelecidas

Guardam o amor de uma vida

Enquanto a boca silencia

Sugando da delicada taça

O veneno que aos poucos a mata

Enquanto dentro da taça

Sangue e vinho misturam-se

Em um grande redemoinho

E na loucura que tudo confunde

Quase se faz a coragem

Mas a realidade

Não se nega através dela

Loucura e solidão

Unem as mãos

Nem o vinho vence elas

E se as paredes tivessem braços

Certamente me tomariam

Por saberem da dor sentida

Por verem cada lágrima escorrida

Toda luta de minha vida

Na taça vazia

Cristal frio

As marcas do momento

Que fôra entre as paredes vividos

São apenas esse os vestígios

E no amanhecer

Nada ninguém irá saber

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 13/02/2024
Código do texto: T7998392
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