GÊNESIS
Era um tempo
de um intenso vazio
nada ainda estava
em seu útero,
e tudo se consumia
antes mesmo
de se fazer existência.
O porvir,
inconcebível,
só uma vaga
percepção das coisas,
a alma estava a se fecundar
na natureza das espécies e especiarias.
Havia tênue hesitação,
incômodos sortilégios...
Agonizava nos etéreos
a sensatez que um dia
haveria de faltar,
quando futuras criaturas
se apropriassem da criação.
E então,
num arroubo
de ingênua onisciência,
o Criador
deixou-se guiar-se
por vãs esperanças,
renegou o infinito
ao último plano,
e fez-se luz !
E nunca mais
o nada se bastou.
E Deus chorou ...
nasceram as primeiras chuvas,
que o homem,
um dia,
sabiamente,
as chamou de precipitações.