Insanidade

Há tanto em mim em desatino

Em revoadas, sem ninho

Há tanto incompreendido

Tanto que a explicação confunde

Sentimentos grandes que amiúde

Não encontra o que o traduza

E em meio ao que confunde

Mil perguntas como areia

Que amor sigo?

O que busco?

O que desejo?

Que enleo é este vão da fantasia?

O que de fato é minha alegria?

A figura que acende a chama

É real ou minha fantasia?

A que nunca tive?

Ou a que perdi?

Alguém que me queria?

Ou não era ninguém?

Quem me faz no peito a guerra?

Ou a guerra sou eu e mais ninguém?

Contra quem pelejo?

Contra mim?

Contra quem a mim não quer?

Contra sonhos?

Contra meus velhos e mortos sonhos?

De onde tudo isso vem?

Como posso amar quem não me ama?

Como sigo sem esse alguém?

A beleza veio dia a dia

Por encantamento o meu desejo

Por sombra passou minha alegria

Enquanto luz havia

Mostrou-me amor

E dormindo o que não via

Me ceguei do que vi,

Enquanto o que via não quis ver

E assim me ceguei

Pois já nada vejo

Fez à sua medida o pensamento

Nele escolheu cada palavra

A lançando no vento

Como facas afiadas

Que até o vento cortava

E do que antes existia

Estranha e nova forma se fazia

E o que antes parecia quase ser divino

Na forma de agora

É sombra e desatino

É certo e verdadeiro meu tormento

Eu morro do que vi, do que imagino

Em cada dia mais sofrimento

E a fogueira que antes ardia

Aquecendo tudo por dentro

Hoje nem cinzas

É gelo que tudo queima

Em um frio que a alma transpassa

Através de cada palavra

Ou do silêncio que no agora laça

Cada parte do meu ser

E me impede de te dizer

Que nesse calabouço

Não há quem não fique louco

E a sanidade é a mais pura das loucuras

De quem ama de verdade

E por amar sou louca

Já não tenho sanidade

Isso me consola

É esse o meu agora

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 11/02/2024
Reeditado em 11/02/2024
Código do texto: T7996985
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