FESTA DA VINDIMA
Surgem mais brotos exatamente
Passadas três luas bem luzidas
A contar do mês das últimas chuvas
Que se evadiram para o mar
Pois o dia desdobra-se sem cismar
(Vê-se pelo lustro que enfeitiça)
Chegam então as aves do pântano
E fazem das suas, dão por volitar
Sobre o momento que se arrasta —
As brisas sustentam-nas no alto
Entre os palmares que bastam
E prendem, em seus olhos, imagens
Vindas dos montes e da margem
Que se desenham cá por baixo
A forma de homens e mulheres
O mesmo que mariposas em matizes
Já inspirados no mito e também
Mergulhados na senda da cacimba*
Que ora se dissipa para longe
Ao acompanhar o chamadouro
Da incansável batucada a chamar
Em múltiplas vozes dos antigos —
Que haja muita fartura e longa vida
Oh gente boa desta terra-poema
Vamos para a festa da vindima!
*Cacimba = nevoeiro que se forma em África.
Redigido em Kimbundu.
Tradução portuguesa do autor.