UM SER INCOMPLETO

UM SER INCOMPLETO

 

Sou cisco de um ser incompleto,

Pequeno, sui generis e volúvel,

Só digno de um quarto sem teto,

Por talvez ser algo insolúvel.

 

Do mesmo jeito que eu existo,

Deixarei esse tempo ou estágio,

Sem saber se fui algo benquisto,

E se tudo é real ou um plágio.

 

Do mesmo modo que somos metade,

Tudo no mundo exige o inverso,

Se são dois polos para sanidade,

Ou se é preciso o que converso.

 

O mundo irá existir sem mim,

Mas eu só existo onde há mundo,

Pois somente o caos é sem fim,

E eu existo em cada segundo.

 

A única certeza é que não sou,

Pois tudo muda, até mesmo o rio,

Onde a água será talvez como sou,

Pois nada sou, se sou como rio.

 

O que eu fui ontem agora difere,

Porque aprendi ou mesmo esqueci,

Se às vezes construo o que fere,

Então, não sei se subi ou desci.

 

Eu deveria ser sempre melhor,

Mas nem sempre isso me ocorre,

Pois se eu fosse somente suor,

Seria só o sangue que escorre.

 

O que penso talvez não concordem,

E a minha verdade será inventiva,

Se minha ordem pode ser desordem,

E o meu crer sucumbe na oitiva.