AMANHÃ

O sol já se punha curvado em posição de repouso

E contava ladainhas ao horizonte em sobretarde

Enquanto a brisa vinha das bravas ladeiras

Ciciando como quem canta com os mortos —

Por um momento, subiam-me luares cor de cauris

No olhar apavorado, e seguiam-me coisas

Em saltos acentuados

Nos ásperos caminhos onde passava empoeirado

E sem descanso

"Mas por que rotas percorrias tu dessa maneira?"

Perguntam os morcegos que ainda me ensombram

"Procuro-me em cada dia a cada raio que raia—

E amanhã, ao novo raiar

Sei em meu íntimo que hei de me reencontrar

Naquilo que já fui e ainda anseio por ser"

Respondo eu, em quietude, como quem reza.

Redigido em Kimbundu.

Tradução portuguesa do autor.