AVENTURAS DO ZÉ

AVENTURAS DO ZÉ

 

Nascer e não ser pra tesouro,

Virar homem sem mesmo ter tempo,

Pois a vida lhe fez de besouro,

Trabalhando sem asas ao vento.

 

Ser um pato feio é tristeza,

Sem a sorte que foi pretendida,

Ser a mula, com toda certeza,

No leilão, com a vida vendida.

 

Teve um dia com o pai do colega,

Que lhe enxergava ser promissor,

Ele lhe exautou o que não nega,

Ao dizer que celebrava sua dor.

 

Ele quis fazer troca de egos,

Ao dizer que o Zé era melhor,

E que o pai de Zé estava cego,

Se não lhe dava um valor maior.

 

Era um tempo de rosa e Portela,

Onde o samba era moda e iludia,

Mas não cura o estigma em tela,

De ser pobre ou querer alforria.

 

Foi assim, vivendo fora do lar,

Onde quase ninguém se encantava,

Que sofreu, vendo a vela apagar,

Como um pesadelo que não findava.

 

Sempre andando sem um bom coração,

Com a coluna teimando envergar,

Que sofreu na busca de educação,

Junto à fome sem poder merendar.

 

Desse jeito conheceu seu País,

Na viagem forçada sem tréguas,

Nunca fazendo o que sempre quis,

Mas seguindo e andando por léguas.

 

Quase teve sua vida ceifada,

Num mergulho à beira do mar,

E, lembrando de sua jornada,

Foi viver numa ilha e sem lar.

 

Como peixe na maré sob a lua,

Reparou que o mar é tão sujo,

Pois eles jogam lixo nas ruas,

E comem do mar seus caramujos.

 

Comem também siris e lagostas,

E assim se contaminam geral,

Pois o mercúrio afeta as ostras,

Que lhes servem até no Natal.

 

Essas aventuras foram do Zé,

Não o Pelintra ou o Carioca,

Mas o Zé que teve bicho de pé,

Na Barra do Jucu ou numa oca.