SONHO
Ao adormecer, gera-se um instante bem curioso —
Os ventos uivam e berram incessantes no recinto
Já imerso na escuridão densa, grávida de morcegos
Cá dentro, os vultos rosnam-me coisas de arrepiar
E riscam, com unhas, segredos nas paredes
Que não anseio por ver
Então, a sombra da lua devaga pela porta de entrada
E ao entrar, veste-me assombros que enjoam
Para melhor amarfanhar o sono
Do nada, chega-me um tanto de frio e mais arrepios —
Sinto uma certa convulsão em cada membro
E nada me acalma a alma vazada
— Transpiro incertezas e angústias
Em decorrência, tateio ao alcance dum sopro a fugir
Que a vida me outorga e os vultos me querem negar
Esta vida tão insegura quanto este sonho pesado
Recorrente, assaltante e ainda bem curioso
Que julgo saber mas nunca entendi.
Redigido em Kimbundu.
Tradução portuguesa do autor.