Relicário

É frágil o fio que sustenta a vida

Delicado relicário

Entre o fim e começo

Há histórias, sonhos, sorrisos e lágrimas

Caminhos percorridos

Esperas desperdiçadas

Palavras ditas

E outras tantas silenciadas

Gritos inaudíveis

Na garganta guardados

Enquanto da boca saíam

Palavras que outros desejavam

Lágrimas vertidas

Enquanto o rosto mostrava

Um sorriso pálido

Que ao mundo enganava

Sonhos perdidos

Entre a solidão de grossas garras

Dores sentidas

Que a ninguém incomodava

Um canto silencioso

Pela estrada deixado

Entre espinhos e flores

Perfumes de desamores

Olhar enegrecido

Luz que foi apagada

Mais sonhos perdidos

Enquanto ainda caminhava

Flores despetaladas

Do seus caules arrancadas

Beleza destruída

Vida sem perfume

Sem a luz do vagalume

Caminhante sem nada

E pouco a pouco o fio é corroído

O peito mais e mais dolorido

A cabeça tenta encontrar sentido

É delicado o fio que sustenta a vida

Pelo amor é nutrido

Sem ele a esperança

É como uma frágil criança

Entre as lembranças

Memórias no peito gravadas

Tatuagens na pele desenhadas

Um fino sorriso

Quase imperceptível

Traz a respiração profunda

Que dá um sopro de vida à moribunda

No inútil renascer

De uma débil esperança

Com um decreto para morrer

Pois no grande abismo

Do silêncio incorrompível

Há de nada receber

E logo a fúnebre rotina

Passará com seu cortejo

E em sepulcro frio

Deixará o inerte corpo

De outra esperança morta

Sem que haja nenhuma rosa

E que seja tão somente

Túmulos de esperanças mortas

E o corpo de onde nascem

Não se prenda em pedras

Mas que voe com o vento

Uivando pelos quatro cantos

Todos os lamentos

Junto com o perfume de todas as rosas

Pois é frágil o fio que sustenta a vida

Um delicado relicário

Onde fica guardado

O que em mim é mais sagrado

O que é mais frágil

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 22/01/2024
Código do texto: T7982396
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