Relicário
É frágil o fio que sustenta a vida
Delicado relicário
Entre o fim e começo
Há histórias, sonhos, sorrisos e lágrimas
Caminhos percorridos
Esperas desperdiçadas
Palavras ditas
E outras tantas silenciadas
Gritos inaudíveis
Na garganta guardados
Enquanto da boca saíam
Palavras que outros desejavam
Lágrimas vertidas
Enquanto o rosto mostrava
Um sorriso pálido
Que ao mundo enganava
Sonhos perdidos
Entre a solidão de grossas garras
Dores sentidas
Que a ninguém incomodava
Um canto silencioso
Pela estrada deixado
Entre espinhos e flores
Perfumes de desamores
Olhar enegrecido
Luz que foi apagada
Mais sonhos perdidos
Enquanto ainda caminhava
Flores despetaladas
Do seus caules arrancadas
Beleza destruída
Vida sem perfume
Sem a luz do vagalume
Caminhante sem nada
E pouco a pouco o fio é corroído
O peito mais e mais dolorido
A cabeça tenta encontrar sentido
É delicado o fio que sustenta a vida
Pelo amor é nutrido
Sem ele a esperança
É como uma frágil criança
Entre as lembranças
Memórias no peito gravadas
Tatuagens na pele desenhadas
Um fino sorriso
Quase imperceptível
Traz a respiração profunda
Que dá um sopro de vida à moribunda
No inútil renascer
De uma débil esperança
Com um decreto para morrer
Pois no grande abismo
Do silêncio incorrompível
Há de nada receber
E logo a fúnebre rotina
Passará com seu cortejo
E em sepulcro frio
Deixará o inerte corpo
De outra esperança morta
Sem que haja nenhuma rosa
E que seja tão somente
Túmulos de esperanças mortas
E o corpo de onde nascem
Não se prenda em pedras
Mas que voe com o vento
Uivando pelos quatro cantos
Todos os lamentos
Junto com o perfume de todas as rosas
Pois é frágil o fio que sustenta a vida
Um delicado relicário
Onde fica guardado
O que em mim é mais sagrado
O que é mais frágil