Horas e horas
Deito-me sobre lençóis de pedra
Que a meu corpo mais gela
Fazendo a pele cinza
Lábios selados em seco silêncio
Sem murmúrios ou lamentos
Apenas alinhavados pela linha desse tempo
Olhos em terrível tempestade
Ondas o invadem
Batem neles gélidos ventos
Tempo infinito
Navalha de fio cortante
Guardo na garganta esse grito nunca fundo
Horas e mais horas e o cansaço acumulando
Prece elevada pedindo de maneira delicada
Que o tempo possa ir terminando
Sucumbo às lágrimas
Que à mim não trazem nada
Dão-me só sentido para tudo que tenho vivido
Horas de morbidez
Horas que parecem se multiplicar
Entre as paredes em que não queria estar
Sinto escarnecer minha lucidez
São horas e mais horas
Nessa estupidez
Nu jaz o meu corpo
Em uma paz de fantasia
Pois em meu peito não há alegria
Sinto que incólume ao amor que desejo
Deambulam vivas memórias
Que me assombram agora
Sonhos perdidos
Entre a intrépida escuridão
Solidão pressa em minhas mãos
Carrossel cheio do que nunca quis eu ter
Nada e mais nada
E ainda sonho com você
Grilhões me acorrentam
Pés, mãos, todo meu ser
Morro por amor em mim ter
Assim, esse silêncio
Me prendem ao leito
Não me liberto de nenhum jeito
Leito que é meu túmulo
Lar de um corpo em palidez
Sem ter tido um beijo uma única vez
Descoloridas solitárias horas
Me levam contra as pedras
Meu barco nunca ancora
Outra vez no mar bravio
Horas e mais horas
No corpo outro arrepio
Lágrimas que escorrem
Enquanto o corpo morre
Alucinações que nelas correm