Horas e horas

Deito-me sobre lençóis de pedra

Que a meu corpo mais gela

Fazendo a pele cinza

Lábios selados em seco silêncio

Sem murmúrios ou lamentos

Apenas alinhavados pela linha desse tempo

Olhos em terrível tempestade

Ondas o invadem

Batem neles gélidos ventos

Tempo infinito

Navalha de fio cortante

Guardo na garganta esse grito nunca fundo

Horas e mais horas e o cansaço acumulando

Prece elevada pedindo de maneira delicada

Que o tempo possa ir terminando

Sucumbo às lágrimas

Que à mim não trazem nada

Dão-me só sentido para tudo que tenho vivido

Horas de morbidez

Horas que parecem se multiplicar

Entre as paredes em que não queria estar

Sinto escarnecer minha lucidez

São horas e mais horas

Nessa estupidez

Nu jaz o meu corpo

Em uma paz de fantasia

Pois em meu peito não há alegria

Sinto que incólume ao amor que desejo

Deambulam vivas memórias

Que me assombram agora

Sonhos perdidos

Entre a intrépida escuridão

Solidão pressa em minhas mãos

Carrossel cheio do que nunca quis eu ter

Nada e mais nada

E ainda sonho com você

Grilhões me acorrentam

Pés, mãos, todo meu ser

Morro por amor em mim ter

Assim, esse silêncio

Me prendem ao leito

Não me liberto de nenhum jeito

Leito que é meu túmulo

Lar de um corpo em palidez

Sem ter tido um beijo uma única vez

Descoloridas solitárias horas

Me levam contra as pedras

Meu barco nunca ancora

Outra vez no mar bravio

Horas e mais horas

No corpo outro arrepio

Lágrimas que escorrem

Enquanto o corpo morre

Alucinações que nelas correm

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 20/01/2024
Código do texto: T7980977
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