DESALENTO

Tantos foram

que lá ficaram um só.

Aprenderam a liturgia do uníssono,

compartilhavam-se

de lacrimosas lembranças

às vezes ensaiavam um desengonçado riso,

uns andrajos de esperança

para se lembrarem

do propósito do horizonte.

A negação era companheira

teimosa,

na recusa do esquecimento

iam colecionando uns incômodos laivos

de regresso.

O tempo era a apólice

dos amanhãs,

seguro estavam da infinitude

dos desejos

desbotados na pátina

que a saudade emoldurava.

As noite

iam se lumiando em inquietações

o leito tosco,

era a medida tíbia

dos sonhos,

já camuflados de ilusão.

E de tão alto

que iam,

ora dessa esbarrariam

numa desavisada estrela

que divisava as cadências

do lume e do medo.

Das cadências

eles entendiam,

do medo

se entediavam,

das cadentes estrelas,

das carentes estradas

só lhe restavam as orações.

E de tantas

se transformavam

em uma só,

unânime penitência

em tempos de

recorrentes desolações.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 08/01/2024
Código do texto: T7972259
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