A COR DA MISTURA
A COR DA MISTURA
Minha pele é a cor da mistura,
Pois nasci de todos os povos,
Fiz meu rosto de cada cultura,
Como um café com leite e ovos.
Vi o amanhecer e sonhei à tarde,
Mas também curti o sol e o luar,
Colhi flores e frutos com arte,
Apreciando até meu medo do mar.
Vi o camaleão com seu mimetismo,
E lembrei que maquiamos o rosto,
Certas vezes com meu narcisismo,
Porque me acho bonito e gostoso.
Dizem que devemos a todos amar,
Mas o amor basilar é o próprio,
E por amarmos de modo exemplar,
Seremos farol de um promontório.
Quem for navegar terá segurança,
E ao conviver gozará da alegria,
Onde a lágrima será de esperança,
Pois na confiança não há agonia.
Se moro nos Alpes, serei o loiro,
Mas nascendo em África, um preto,
Embora no Açores, talvez o mouro,
E no ocidente, eu sou do gueto.
Ninguém estufa os olhos no frio,
Ou quando o mar nos dá maresias,
Mas se o olhar for como calafrio,
Terás um susto com as profecias.
Tudo que se conecta é por energia,
Sem toques, mas os hiatos do caos,
E, se há equilíbrio, é por sintonia,
Do que aceito como versão do Tao.