VIVEMOS ESPERANDO

VIVEMOS ESPERANDO

 

Haverá um dia para sermos melhores,

Onde a tônica da vida seja a paz,

Onde acordemos com acordes e vozes,

Pois calar é ação do corpo que jaz.

 

Enquanto houver vida e suspiros,

Haverá emoções ou algum conflito,

Mas já não se aprende em papiros,

Se tudo agora é ganho no grito.

 

As pedras de liso perduram no rio,

Como as águas passam fora do açude,

Mas não fique triste com o frio,

Pois haverá sempre verões amiúde.

 

Vivemos esperando pela eternidade,

Como se a vida nem mesmo houvesse,

Falamos de Deus numa insanidade,

Como se Deus tudo nos impusesse.

 

Esqueceram da liberdade do ego,

Buscando no engano alguma razão,

E esquecem de viver com desapego,

Se vem a velhice findar a ilusão.

 

Tentamos de novo, criando os anos,

Fora do contínuo, querendo etapas,

Buscando heróis, mesmo os urbanos,

Mas os obtendo na guerra que mata.

 

Que pena, que triste, que heresia,

Achar sermos deuses, quando se morre,

Como faraós ou até em Alexandria,

Conquistando o rio que lhes escorre.

 

Nos meandros dos deltas de estrelas,

Há bem mais caminhos que verdades,

Pois elas são sonhos nas veredas,

E pelos sertões de nossas saudades.