Tempo findo
Entre os panos
O corpo nu
A alma em chamas
Na maresia
O olhar nublado
O rosto pálido
Fim de outro tempo
Dor em cada momento
Restaram poucas lembranças
Que nem sei
Se há validade
Ou se fingi serem minha realidade
Em algum tempo
Onde crença havia
Finda outro tempo de maresia
E no seguir de novos dias
Em meio a ventania
Escorre na veia
A antiga companhia
Gélido tempo
Cuja fração de cada momento
Traduz sem sutileza
A ausência de toda beleza
Intrépido e sorrateiro
Arrepia o corpo inteiro
Sobre o travesseiro
Afundado no branco tecido
Tudo de mim escorrido
Sem que olhos ou ouvidos
O tivessem percebido
Fugaz sonho que a alma
Alimentou como todo cuidado
Tratando-o como a um relicário
Contendo o mais sagrado
E que pelo tempo foi arrancado
Quisera outra aurora
Entre luzes e reluzes
Ver nas cores refletidas
Sonhos de outra vida
Reflexo não consentido
Cores apagadas e tingidas
Por outras acinzentadas
Nuances no agora criado
Esboço de uma vida não desejada
E outro tempo finda
Outro tempo se cria
E segue essa vida
Busca incessante
Pelo mesmo de antes
E entre os tempos findos
Os tempos vindos
O olhar ainda perdido
Coração ferido
Mãos vazias
Mas agora…
Sem fantasias