Lamentos

Aportei como um barco

Que busca por cuidados

Continuar a navegar era arriscado

Por isso necessito ficar aportada

Os temporais porque tenho passado

Muito me têm machucado

Permanecer no mar é se deixar

Se permitir ser maltratada

Há tanto as pedras me tem ferido

Rompem a pele, destroem o que me é querido

Resta-me pouco

Pouca fé, pouco crer no amor

Muita dor, pouca cor

Muito esquecimento e carne fugitiva

Falta de vontade pela vida

Busca vã de um fundamento firme

Para voltar a crer e renascer

Migalhas ontem oferecidas

Tomadas e feitas despedidas

Mísera parcela de um sentimento

Que em algum momento

Foram palavras inúteis e depois agressivas

Em um desejo infindo de ferir

Quem um dia só me fez sentir

Negando o inevitável

Crendo ser inabalável

Em cegueira de grande besta sensitiva

Que se impregnava de pressentimento

Mas por sonhar com o que era fulgaz

Cuidava para que a cegueira fosse voraz

Aportei como um barco

Impregnada pela falta de fé

Porões inundado de pouco amor

Esquecimento escolhido

Pensamentos distorcidos

Busca vã de um fundamento firme

Mísera parcela de inútil sentimento

Que em algum momento

Fez-se cheio de palavras inúteis

Noutras muito agressivas

Cegueira voluntária de uma besta sensitiva

Que já tinha o pressentimento

Mas por o impulso

Instintivo de preservação

Escolhe negar tudo então

Sabendo que o contrário

Me lança na absoluta solidão

É luta inglória

Não há pra mim vitória

Tudo segue muito nublado

Não em encontro um ponto claro

Sob imensa neblina ou conjectura

Me perco sem mudar minha sina

É eterna, é simplesmente minha vida

Então aporto

É que se faça valer todo tempo e desamparo

Se vim isso viver

Que seja assim

E que tudo retorne à constante pura

Saga da minha vida

Que eu sinta e cure

Que batam as asas nessa janela

Onde se encerra a ferida

Pois que se faça valer esse tempo

Que eu siga no desamparo

Se findado esse aportar

Esse tempo que me foi dado a ficar

Tudo retorne à constante pura

E que batam as asas dessa triste vida

E se feche as janelas de onde abrem feridas

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 27/12/2023
Reeditado em 27/12/2023
Código do texto: T7963380
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