Lamentos
Aportei como um barco
Que busca por cuidados
Continuar a navegar era arriscado
Por isso necessito ficar aportada
Os temporais porque tenho passado
Muito me têm machucado
Permanecer no mar é se deixar
Se permitir ser maltratada
Há tanto as pedras me tem ferido
Rompem a pele, destroem o que me é querido
Resta-me pouco
Pouca fé, pouco crer no amor
Muita dor, pouca cor
Muito esquecimento e carne fugitiva
Falta de vontade pela vida
Busca vã de um fundamento firme
Para voltar a crer e renascer
Migalhas ontem oferecidas
Tomadas e feitas despedidas
Mísera parcela de um sentimento
Que em algum momento
Foram palavras inúteis e depois agressivas
Em um desejo infindo de ferir
Quem um dia só me fez sentir
Negando o inevitável
Crendo ser inabalável
Em cegueira de grande besta sensitiva
Que se impregnava de pressentimento
Mas por sonhar com o que era fulgaz
Cuidava para que a cegueira fosse voraz
Aportei como um barco
Impregnada pela falta de fé
Porões inundado de pouco amor
Esquecimento escolhido
Pensamentos distorcidos
Busca vã de um fundamento firme
Mísera parcela de inútil sentimento
Que em algum momento
Fez-se cheio de palavras inúteis
Noutras muito agressivas
Cegueira voluntária de uma besta sensitiva
Que já tinha o pressentimento
Mas por o impulso
Instintivo de preservação
Escolhe negar tudo então
Sabendo que o contrário
Me lança na absoluta solidão
É luta inglória
Não há pra mim vitória
Tudo segue muito nublado
Não em encontro um ponto claro
Sob imensa neblina ou conjectura
Me perco sem mudar minha sina
É eterna, é simplesmente minha vida
Então aporto
É que se faça valer todo tempo e desamparo
Se vim isso viver
Que seja assim
E que tudo retorne à constante pura
Saga da minha vida
Que eu sinta e cure
Que batam as asas nessa janela
Onde se encerra a ferida
Pois que se faça valer esse tempo
Que eu siga no desamparo
Se findado esse aportar
Esse tempo que me foi dado a ficar
Tudo retorne à constante pura
E que batam as asas dessa triste vida
E se feche as janelas de onde abrem feridas