SER PREGUIÇOSO

SER PREGUIÇOSO

 

Todos os dias as noites ocorrem,

E quem for coruja quer ter luar,

Indo voar, vendo ratos que fogem,

Num discurso poético ao piar.

 

Mas a noite também é humana,

Pois nós inventamos as cidades,

Talvez por buscar nas cabanas,

Ser alguma colméia de verdade.

 

Só não lembro falar de trabalho,

Como cada rainha recruta abelhas,

Mesmo sendo ela um modo escravo,

Pois vive o ônus de concebê-las.

 

Por sermos esse ser preguiçoso,

Com o instinto primata em flor,

Só pensamos em ter, até o osso,

E nossa fome só isenta isopor.

 

A preguiça é tanta como a fadiga,

Pois só queremos ter prato feito,

E não adianta mandarmos pra lida,

Pois hoje roubar já não é defeito.

 

Roubam os políticos e os doutores,

E os que roubam mais são burgueses,

Pois dizem que trabalham horrores,

Mas enganam a Deus e os fregueses.

 

Inventaram um conceito para nobres,

Que seriam os cidadãos "de" bem,

E esqueceram até mesmo dos pobres,

Mas certo é ser cidadão "do" bem.

 

Ninguém vive mais no velho Egito,

Onde haviam as múmias e os faraós,

Pois guardavam as tripas num litro,

E enterravam seu ouro como ebó.

 

Pensavam poder comprar sua viagem,

E poder estar com Rá ou Osiris,

Mas sempre há um Set sem coragem,

E da covardia não sobra o pires.

 

Hoje há mais vontade para sermos,

Pois já sabemos o que é a caverna,

E o que podemos é buscar os termos,

Que sirvam para uma vida eterna.

 

Daqui nada se leva, mas se deixa,

E aqui se aprende, até com cupim,

Mas isso é pra quem não se queixa,

E só agradece, seja o bom ou ruim.