O TEMPO DE TUDO

O TEMPO DE TUDO

 

Há tempo para tudo, se eu vivo,

Somente não há um mesmo lugar,

Se a água gera a pedra de liso,

Pois um rio não sabe esperar.

 

Sob as pontes e nas cachoeiras,

A água se esgueira para o mar,

Borbulha e fumaça nas beiras,

E se descortina perante o luar.

 

As onças procuram beber à margem,

Da boa água que também eu festejo,

Que faz dessa vida a nossa viagem,

Enquanto se saciam e eu bocejo.

 

Estou mais para ter uma carapaça,

E ter o ritmo de uma tartaruga,

Porque a pressa é como a cachaça,

Que nos embriaga e não me ajuda.

 

Se o tempo é velho, eu não sei,

Pois o Cosmo não se acha idoso,

Pois tudo que vem, vai por lei,

Se o mundo perdura em meu gozo.

 

Se estou como um jovem eterno,

É por que já morri desde cedo,

E não escrevi ou li o caderno,

Pois, diante de tudo, tive medo.

 

Mas, quando chegar o meu inverno,

Espero que venha outra primavera,

Me dando o tempo de ler o caderno,

Ao findar o medo que me desespera.