Dor companheira

Como o açoitar de um corpo já quebrado

Esse tempo tem reforçado

As dores do passado

Um tempo infecundo

Sorte de moribundo

Agonia extenuante

Tudo se repetindo como antes

Há um silêncio profundo

Viro-me de costas

Só a parede vejo agora

Nenhuma palavra

Que rompesse essa história

Ouço passos direcionados

Para outros que aqui agora

Enfrentam os medos no aconchego

Do abraço que lhes conforta

Virada de costas

Com os olhos fechados

Crio o meu abraço

Escondo-me do desatino

Sigo inventando histórias

Que negam o meu agora

E tudo que guardo na memória

Outro dia termina

Não sou mais aquela menina

Mas vivo a mesma sina

E por isso invento

Crio um outro mundo

Um lugar mais seguro

Quando os olhos se fecham

E dele vou me alimentando

Na solidão me acomodando

Mas com outras cores o vou pintando

Para dar-me alívio

Ao que nunca será me dito

Na total sinceridade

Esculpido somente pela verdade

Ver o findar de outro tempo

Não traz a mim alento

Os sonhos se decompuseram

Restaram apenas os sentimentos

Que há tanto tempo

Moram apenas dentro

Desse coração despedaçado

Da esperança apartado

Nesse corpo guardado

Corpo que nessa cama está deitado

Por agulhas perfurado

Há somente dor

Isso foi sempre o que nunca me deixou

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 25/12/2023
Código do texto: T7961871
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