Dor companheira
Como o açoitar de um corpo já quebrado
Esse tempo tem reforçado
As dores do passado
Um tempo infecundo
Sorte de moribundo
Agonia extenuante
Tudo se repetindo como antes
Há um silêncio profundo
Viro-me de costas
Só a parede vejo agora
Nenhuma palavra
Que rompesse essa história
Ouço passos direcionados
Para outros que aqui agora
Enfrentam os medos no aconchego
Do abraço que lhes conforta
Virada de costas
Com os olhos fechados
Crio o meu abraço
Escondo-me do desatino
Sigo inventando histórias
Que negam o meu agora
E tudo que guardo na memória
Outro dia termina
Não sou mais aquela menina
Mas vivo a mesma sina
E por isso invento
Crio um outro mundo
Um lugar mais seguro
Quando os olhos se fecham
E dele vou me alimentando
Na solidão me acomodando
Mas com outras cores o vou pintando
Para dar-me alívio
Ao que nunca será me dito
Na total sinceridade
Esculpido somente pela verdade
Ver o findar de outro tempo
Não traz a mim alento
Os sonhos se decompuseram
Restaram apenas os sentimentos
Que há tanto tempo
Moram apenas dentro
Desse coração despedaçado
Da esperança apartado
Nesse corpo guardado
Corpo que nessa cama está deitado
Por agulhas perfurado
Há somente dor
Isso foi sempre o que nunca me deixou