LAVRA
Dê-me o dom da palavra,
não as letras mudas,
ou versos frios
repousados em estéticas lápides,
represados nas esféricas dos lápis.
Dê-me o dom
de uma plenitude inalcancável!
Insepulta as tentativas nobres da expressão,
e cuida para amealhar eternidades em cada sílaba.
Dê-me a palavra pura, profunda e
imaculada,
apalavrado já está o mundo
em superficialidades.
Deixa perecer adjetivos e substantivos inócuos,
faz aparecer o que mais reverbero : o verbo e a sua intrínseca transformação.
E se lhe parecer ainda fugaz,
converte-me em poesia,
que o resto minha pena há de buscar num infinito qualquer.