Os homens desta era
São os homens, desta era, de borracha,
as mulheres, de plástico oleoso.
Todos criaturas cinzas, matéria tão só:
espíritos de pedra, corações de metal.
Tudo devido a grã errada conclusão:
isolou-se, ao pé da letra, a questão da primeira culpa,
elevou-se em monumento
a suspeita de que somos indignos,
que estamos destituídos da luz
e da grande felicidade,
que não há salvação.
Tomamos um lado, em histeria:
não queremos ser felizes,
almejamos nossa destruição,
pois supomos sermos seres de trevas.
Nadamos no nada e no abismo,
nos odiamos, nos julgamos um absurdo,
um erro, um não-ser.
Caímos na sedução da tragédia,
pois é ela uma sereia:
a tememos, mas nos seduz,
nos enlaça para nos devorar;
canta-nos alegres devaneios,
mas nos traga ao mar revolto.
Matamos aquele que nos perdoou
e agora não há quem nos redima.
Esquecemos que a vida é sempre nova.
Esquecemos que há um amor que tudo perdoa.
Esquecemos que Cristo ressurgiu.