DE OLHO NO TEMPO
DE OLHO NO TEMPO
Se eu ando de olho no tempo,
Tu me diz pra levar uma capa,
Mas a chuva se vai com o vento,
E eu carrego a água na lata.
Mesmo hoje, com moto e carro,
Minha lata eu levo no jerico,
Lembrando o tempo de escravo,
Em que a tropa servia ao rico.
Na caatinga nem sobra escarro,
Pois os dias são só de secura,
E a água é de poço ou de carro,
Mas é salobra pra fruta madura.
Os tempos que virão serão secos,
Pois o homem sequestrou o mato,
Querendo a massa com tomate seco,
Mas esqueceu do leite e do gado.
Todos querem queijo e linguiça,
Querem pizza e também churrasco,
Mas sem água é tanta a preguiça,
Que não serve ter horta e pasto.
No Nordeste querem a monocultura,
Mas o solo diz que seja eclético,
Que só maneje o solo com ternura,
Para o cultivo ser algo poético.
Tenha também a sanfona e o banjo,
Para musicar seus dias de cultivo,
E demonstrar a todos o seu arranjo,
Numa varanda ao por do sol altivo.
Mas pela manhã guarde a audição,
Para o sofrê, o curió e a sabiá,
Lembre do galo lá na escuridão,
E até dos uivos do lobo guará.
Seja feliz com a simplicidade,
Pois a demanda só é por viver,
Viva no campo e não na cidade,
Pois lá o céu é bonito de ver.