ACORDARAM CÉRBERO

ACORDARAM CÉRBERO

 

A humanidade desfaz e constrói,

Conflita gestação e assassinato,

Fala de paz, mas bate que dói,

E esquece que o lago quer pato.

 

O nosso planeta forma as vidas,

E nos dá clima, água e a flora,

Oferta-nos uma fauna atrevida,

Onde tudo é com prumo e hora.

 

Durante as eras antes do homem,

Tudo mudava de modo adequado,

Nas gotas de orvalho de ontem,

Que ebulem ao sol sem culpados.

 

Com o tempo surgiram florestas,

Onde antes houveram os desertos,

Mas a vida no mar foi sem pressa,

Ante o dia nublado ou céu aberto.

 

Se ocorre a chegada de um bólido,

O qual rasga o céu e nos atinge,

É para nos usar como um depósito,

Porque se não mata, nos deprime.

 

Já houveram outros finais de tempo,

Em que toda vida quase foi extinta,

Mas o horror será não ter alimento,

Pois parecemos espécie de quinta.

 

Nós não somos baleia ou crustáceo,

E nem somos formigas ou cupins,

Pois matamos as cotias nos tachos,

E sem as abelhas não há querubins.

 

Só haverá jardim se nos cuidarmos,

Sem deixar que o ódio lá se dê bem,

E seremos justos se não aceitarmos,

Sermos como Herodes em Belém.

 

Acordaram cérbero lá no tártaro,

E ele é como avalanche na baixa,

Sem respeito ao poeta mais caro,

Ou sendo uma represa que racha.

 

De que adianta a guerra no mundo,

Quando a fome vem cedo ou tarde,

E a morte é senhora em segundos,

Pra quem se acha eterno na carne.

 

Se todos nós valêssemos a pena,

Não haveriam soldados e justiça,

Pois a lei justa é como um poema,

Que não precisa estar à vista.