Névoas
Consternada sigo um caminho
O olhar perdido
Os dedos feridos
A pele arranhada nos espinhos
O coração descompassado
Batidas quase ressentidas
De uma vida quase sem vida
Cheia de solidão
Batida por batida
Desintegra o coração
Respiração profunda
Um fôlego de insatisfação
Dor profunda
Mais desilusão
Chão de pedra
Cortes em profusão
Alma moribunda
Espectro peregrino
Entre lápides flutuante
Deslocado ser errante
Entre a morte e a vida
Fio delicado
Ninguém ao meu lado
Nem há despedida
Sete palmas sem presença
Minha estéril consciência
Não há amor nessa vida
Secundário mortuário
Nada jaz em fria lápide
Senão a dor voraz
Passos solitários
Do espectro abandonado
A terra que o cobre
É golpe de sorte
Por ser essa o manto
Que cobre esse corpo em prantos
As mãos frias e vazias
Não recebem final afago
Jaz no leito solitário
Sem esperar a flor fulgaz
Nem na primavera
Tal sepulcro ornará
Singela cor
De uma pequena flor
Tão sem vida
Como a vida
Que esse corpo que jaz
É o sepulcro que o guardará
Se tivesse uma só alma
Que mostrasse se importar
Lançaria meu pedido
De a esse corpo não sepultar
Lançando-o ao vento
Sobre as águas do imenso mar
Para assim nessa vida
A existência encerrar
Considerando a vida
Como a forma de acabar:
Solidão sempre vivida
Na ida, solidão ao ar
E em suas asas
Não estar em nenhum lugar
E nos olhos que se fecham
Quero enfim poder voar
Sem mais névoas
Nem sonhos a me enganar