O afogado
O mar trouxe o corpo à praia.
Era um estrangeiro, jovem e belo.
A boca aberta deixava ouvir,
Como se viessem do outro mundo,
As vagas do mar e os gritos brancos das gaivotas.
Eu lhe fechei os olhos, azuis como o céu
Através das órbitas de uma caveira.
A sua nudez lhe tornava a pele mais pálida.
Sorria perplexo, como se reconhecesse
Num espelho
A nossa estranheza.
Olhando-o, nós sabíamos:
Também temos, em vida, o céu nas órbitas
E a morte nas pálpebras.