Ventos da agonia
De dentro vem um gélido vento
Que a tudo toma
Enquanto uma névoa densa
Envolve até as sombras
Fazendo confundir
O real e o com que estou a me iludir
Há uma ardilosa dança
Sem dançarinos
São apenas sutis figuras
Das sombras oriundas
Das imagens de uma mente
Já há tanto doente
Que busca por uma cura
Figura sem semblante
Como um cão cambaleante
Cujo desespero o põe desatento
Aos perigos de outro pesadelo
É frio dentro
O frio que toma lá fora
A face rubra
Pela feroz febre
Longe do que julgas
Nem mesmo faz uma prece
A boca sela
Guarda o que possa sair dela
O corpo paralisa
Sem sonhos de menina
Experimentou da vida as mentiras
Mais dores colheu
Naquilo que escolheu
O corpo trêmulo
A mente recorda
Do que outrora
A alma acreditou
Foi pura covardia
E escureceu os dias
O tempo modificou
Vieram as tempestades
Os ventos sem piedade
E tudo carregou
Destelhou a casa
Onde morava o amor
E o agarrou a dor
Os ventos uivavam
Anunciando o que acabou
Sem qualquer cuidado
Assim tudo tirou
Deixando um rastro
Onde a destruição se enraizou
Nesse momento o corpo deixou
De acompanhar a mente
Que por tanto tempo sonhou
Estar em um pesadelo
Onde a bonança viria
Após a negra noite que ardia
Cruel expectativa
Dilacerou a vida
Dessa que só amou
A deixando a deriva
Em um barco sem remos
Em pleno oceano
Agitado pela tempestade
Enquanto a face queima
Exposta aos ventos
Aos lamentos
A tempestade
A febre que nela arde
Mas a boca sela
Guarda as palavras nela
A febre não cessa
Arde
Faz a mente delirante
Reviver o sonho
Que insiste em viver
Através da febre
Que a esse corpo convalesce