É feliz
Feliz quem entretece até o fim do dia
Sem se derramar em pranto
Feliz quem no breu que cobre como um manto
A noite que o abraça
Não sente os olhos se derramando
Feliz quem ao findar de um dia
Fecha a porta onde habita
Sem entrar em negro canto
Feliz quem ao deixar pra traz
O dia que termina
Tem em casa companhia
Que o enche de alegria
É feliz quem espera ansioso
Por mais um dia e outra noite
E não se convalesce
De grande tristeza que nunca o esquece
É feliz quem pode viver para além dos sonhos
Que os pode dizer serem seus planos
É feliz quem tem a quem dizer
Como foi o seu dia
Da saudade sentida
Da presa pela chegada
É feliz quem ao abrir a porta
Não se encontra com o nada
É feliz quem tem alguém que o espera
E sorri por ele estar ali
É feliz quem tem histórias para ouvir
É feliz quem tem a companhia de alguém
Voltar para onde não há ninguém
Voltar sabendo que ninguém o espera
Voltar para o silêncio que impera
Onde nenhum som é de conversa
É entrar numa escura caverna
Onde nada se enxerga
O dom da fala não faz falta
É tudo no lugar inaudível
O grito não é por ninguém percebido
É isso que se tem
Quando é só você e mais ninguém
Toda dor é sentida
Sem nunca ser compartilhada
O abraço invisível
E também imperceptível
Pois ali não há ninguém
E enquanto as horas passam
Entre as gélidas paredes mau pintadas
O choro o cansaço seca
Na luz do sol que já impera
E o corpo ainda mais cansado
Nas águas é renovado
O rosto camuflado
O dia iniciado
E outra vez por dentro diz
É feliz quem na despedida tem
Um beijo gostoso
Uma abraço também
Enquanto os ouvidos são preenchidos
Pelas palavras que carregarão
Iluminando esse dia que então
Bate no compasso da saudade
Advinda da ausência que se finda
Na volta para casa que só tem
Quem não habita com a solidão
Mas descansa no abraço afetuoso
Daquele que é dono do seu coração