Meu alimento

Enamorei-me pela ilusão de um amor

Abri meu coração e nem percebi

Quando dei por mim já não me controlava

Tudo o que antes eu pensava

Como água que se aquece em sol pleno

Evaporou e pouco restou

Iludi-me com o que eu pensava

Não vi que era em areia

Que tudo se levantava

Apeguei-me aos sonhos

Nas palavras que ouvia

Fiz com cada uma

Motivos de alegria

Nutri-me com os enganos

Onde vivi os sonhos

Até que um dia

As palavras se fizeram frias

O castelo de enganos

Se desfez entre as areias

Me trazendo à realidade

E findando com a falsidade

Deixei-me então cair

E das ilusões que me nutri

Nada mais restou em mim

Ecoam as palavras que contra mim foram lançadas

Junto com elas caem as lágrimas

No julgo das escolhas erradas

Das palavras que deviam ser silenciadas

O amor que surgiu

Nada ouviu

Entrépidas batidas de um coração

Que nenhuma palavra cessa

Fazendo-se bravio

Mesmo sem sonhos

Cada som, um arrepio

A lembrança do abandono

Congelei-me entre cicatrizes

Sem poder antes dizer-lhe

Que sonhei sermos felizes

Quando deixasse de ser sonho

Mas foi engano

A vida tinha outros planos

E quando me deixei

No frio de cada palavra

Ainda havia esperança em minha alma

Mas foi de mim arrancada

No silêncio em que fui deixada

Em cada dia que o tempo levava

Então eu me arrastava

Pequenas doses me alimentava

E nas estações que o tempo modificava

O frio fez no peito sua morada

Segui cheia, mas com nada

E entre os dias

Já não te esperava

Nas noites me perdia

Quase não suportava

Minha vida te entregava

Sem mesmo ter de você uma palavra

E no que antes sonhava

Outras cicatrizes se amontoavam

Não oro pela cura

Aceitei minha tortura

Serei como o vento

Voarei por todo canto

Sem pouso noutros prados

Mas assim o sendo

Ao fechar meus olhos

Posso no céu voando

Me levar ao teu encontro

Sem que possa me olhar

E assim no desaninho dos teus cabelos

Serei eu que mesmo sem dedos

Os desarrumarei por inteiro

No confuso construir dos meus pensamentos

Por confuso estarem meus sentimentos

Não confundo tudo que sinto

E nunca nisso minto

Abandonei-me no porão com meus sentimentos

Deixe-me entre eles

Só deles me alimento

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 01/12/2023
Código do texto: T7944784
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