Além do Vazio
Flecha certeira, me atravessa inteira,
Dilacera o meu ser, um raio de solidão
Que espelha o vazio tão sonhado,
Mas permeado por escassez.
Solo árido, deserto arraigado,
Aonde nada novo brota,
Ainda que se nutra de água salgada
Em formato de lágrima, que não faz crescer nada,
Só escancara a falta que nada preenche.
De onde tudo que transborda
É a repetição de um passado remoto,
Ainda tão presente, fantasmas de outras eras,
Consequências de escolhas inconscientes,
De padrões antepassados.
Apesar do esforço descomunal,
Ainda não é suficiente para abrir caminho
Em direção à miração da abundância
Que nasce do amor.
Talvez não seja para mim,
Parece que não sou tão poderosa assim
A ponto de ser capaz de, pela primeira vez, criar
Um universo distinto, reflexo do infinito
Que nunca conheci, mas sinto com todas as minhas vísceras que existe.
Mesmo que eu não seja capaz de adentrar,
Só me resta observar outras pessoas o habitarem,
Enquanto me deito no chão ao relento,
Onde vejo bem distante estrelas brilharem.
Sinto frio, sede e fome,
Meu corpo dói e sem forças para reagir,
Se entrega à morte,
Talvez essa seja a chave para adentrar
Aquilo que só vejo ao longe.