PAVÃO DE SARAMANDAIA
PAVÃO DE SARAMANDAIA
Certo dia inventei a roda,
Que serviu para cargas levar,
Mas essa roda saiu de moda,
E eu fui com as asas voar.
Certo dia eu gerei alfabetos,
Que guardaram todo meu pensar,
Mas eu venho com novo prospecto,
E assim eu criei o celular.
Certo dia falei com verbos,
Pois era calado até ao pescar,
Mas hoje selei meus cadernos,
Pois uma nuvem tomou meu luar.
Certamente essa vida quer paz,
Pois em guerra não vou procriar,
E minha vida não quer Alcatraz,
Nem um hospício para seu lugar.
Recorrente é um mal tão banal,
Sem razões que possam explicar,
Seja entre nós ou no meio animal,
Mas um peixe quer chegar ao mar.
Se o bem fosse algo normal,
A maldade não teria lugar,
Mas o equilíbrio é como o sal,
Dá sabor, mas pode nos matar.
Às vezes queriam comer um doce,
Mas também foi preciso evitá-lo,
Pois o fruto por melhor que fosse,
Não se colhe em um lago salgado.
Às vezes eu quis ter sucesso,
Mas a fama me tolheu o caráter,
E hoje vou com a régua e meço,
Cada passo pela terra mater.
Sei que minhas pegadas são verbo,
Pois não ando na areia da praia,
Mas eu gravo meu ser no eterno,
Como o pavão lá de Saramandaia.
Misterioso, ele não é um conde,
E nem tarda a nos demonstrar,
Que só o tempo não nos responde,
Sobre a sorte que vem do luar.
Pois um rasga-mortalha é morte,
Desde quando sou de acreditar,
Ser caminho de fé ou de sorte,
Pois a morte é vida pro mar.