POBRES E IMPUROS

POBRES E IMPUROS

 

Todo pobre tem alguma esperança,

Desde quando ainda ache o pão,

Mas sua breve morte é vingança,

Pois deixa o rei sem a servidão.

 

O consolo de um desempregado,

São as ninfas em plena avenida,

Seja Augusta ou à beira do lago,

Que Brasília se acha fornida.

 

A droga de rico ao pobre é falsa,

E por isso ele adentra no crack,

Pois a coca em escamas tem valsa,

Nos plenários que toleram Barack.

 

Preto, pobre e até os mamelucos,

Se descartam por não serem puros,

Onde estão nesse tabu os eunucos,

Como servos de prazeres impuros.

 

Essa é a tônica dos que dominam,

Dando ênfase a poderes efêmeros,

Pois é certo que deuses definham,

Se morrem santos e até sarracenos.

 

Quem não acordou sabendo que morre,

Faz da tirania o seu modo de vida,

Mas o sangue é um suor que escorre,

Pois que leva até mesmo se duvidas.

 

Mas cada morte pode ter serventia,

Quando mostra quem é bom ou mau,

E se vale o sacrifício de um dia,

Ou se foi somente um marco ideal.

 

Certas mortes são emblemas de vida,

Como em Jerusalém, Paris ou Roma,

E se foi Matusalém, Páris ou Frida,

Velhos amantes estarão em coma.