Banho de chuva
Uma nuvem cinza
Densa, se forma
Uma tempestade
Ao longe se anuncia
Previsão de raios
Trovões
Grossa chuva fria
Quisá trará granizo
Pedras do céu vertida
Choque intenso de temperatura
Gosto da chuva
Gosto do que anuncia
Gosto do corpo lavado
Gosto de ter a alma limpa
Por essa grossa chuva
Retalhos do meu passado
Pedaços do que alegrava
A criança assustada
A menina abandonada
Que na chuva se lavava
Pensando ter dela arrancados
Os infelizes pecados
Que fizeram dela um ser deixado
Sem um colo, um abraço
Sem o amor tão desejado
E largava-se ela na chuva
Os olhos lacrimejamos
Nos lábios um sorriso
Pelo sonho construído
Gosto da chuva
Não por me livrar dos degenerados pecados
Mas por ser ela parte boa do meu passado
Olho a grossa nuvem
No céu anunciando
Logo verterá a chuva
Logo terei o meu corpo molhado
Voltar a ser criança
Misturar lágrimas e chuva
E se alguém perguntar
É apenas chuva
Chuva que renova
Faz brotar a esperança
Enquanto ela cai
Reviro minhas lembranças
Penso no barquinho
Que achou o redemoinho
Girou o pobrezinho
Virou e não mais navegou
Deixou ali o coitadinho
Nas águas a esperança
Grossa chuva que agora cai
Grossas lágrimas que do coração saem
Mas não são lágrimas
São pingos da chuva
Cada pingo que cai
Um sonho que encontra outro redemoinho
Assim como o barquinho
Gira e gira e vira
Afunda nas águas com o barquinho
A nuvem cinza não vai
Nem a chuva
Mais raios
Mais trovões
Mais grossos pingos da chuva
Já delirante desejo
Deixar o meu frio leito
Juntar-me com as águas
Que escorrem pela rua
Juntar-me com essa chuva
E assim que um raio
Descer do céu para terra
Esperarei pelo bravo trovão
E também gritarei ao vento
Todo o meu sentimento
Meu grito e o trovão
Se misturarão
Não saberão
O que dissemos os dois
Só quero um banho de chuva…