Corpo e alma
O corpo jaz em fria espera
Enquanto a alma vaga por entre tantos
Em uma solidão que como manto
A cobre e o corpo verga
Os sentimentos dilaceraram o corpo
E em tormento sua alma aflita
Já nem fala, grita
Implorando pelo amor e pela vida
Enquanto olha, do lado de fora
O próprio corpo que jaz inerte
Tentando achar o que o converte
O que o fará desse leito erguer-se
Em uma difícil tentativa
De achar sentido na vida
Mesmo que só tenha vivido despedidas
Assim a alma vai buscando
Por todos os cantos
Razões para secar o pranto
Enquanto o corpo cansado
Só deseja ficar ali deitado
Por tantas vezes ter tentado
Agora descrê que possa ter
Razão qualquer para viver
Prostra-se em sepultura
Nem por flor espera
Entrega-se às sombras
Fazendo nelas uma mistura
E assim esse corpo se disfarça
A alma vai a loucura
Tenta dar luz às sombras
Para que o corpo não se esconda
E através da luz vai criando cores
Que reluzem sobre o corpo
Em movimentos loucos
E luz e sombra disputam o mesmo espaço
Arranham do corpo os braços
Que verte rubro sangue
E nessa loucura tudo se mistura
Luz
Sombra
Sangue
Morte
Vida
Em desesperada dança
Onde entre sentimentos e agonias
A noite vira dia
O dia vira noite
Adulto e criança
A morte e a vida
Um termina o outro inicia
O que inicia logo termina
E nesse compasso renasce uma esperança
Que nos primeiros raios morre pela espera
A alma pede ao corpo e esse desespera
Apenas quer a espera
No frio da tumba que considera
Ser essa a perfeita espera
Faz-se ele novamente largado
No leito para ele arrumado
Enquanto a alma acelera
No pulsar do coração
Que já não espera
Não tem mais ilusão
E a alma insiste
A vida não pode ser só triste
E por isso considera
Fazer da hora do presente
Razão para realizar outra ação
E erguer novamente o corpo que considera
Finalizado o tempo da espera
Nem a alma, nem o corpo
Encontraram um acordo
Um quer estar morto
O outro quer sentir a vida
Entre um e outro
Segue a vida